Primeiro Festival Heavy Metal 1984 Portugal

A 15 de dezembro de 1984 realizou-se o 1º Festival de Heavy Metal em Sto. António dos Cavaleiros, no pavilhão da Associação de Moradores. Este evento histórico foi o primeiro do género organizado em Portugal.

Do cartaz constavam os STS Paranoid, Xeque-mate, Sepulcro, Mac Zac, Valium, Jarojupe e Low Valley (que não atuariam por se sentirem impreparados).

Os meios técnicos e financeiros escasseavam e a inexperiência da organização era total. No entanto, a vontade dos seus membros (pertencentes ao Purgatório do Heavy Metal e à Metal Masters) era inabalável, suplantando as múltiplas dificuldades com que se depararam.

As peripécias cedo tiveram início, mas houve sempre forma de as ultrapassar. "Arranjámos maneira de, numa gráfica, fora da hora de expediente, nos fazerem os cartazes de borla", explicou-me numa entrevista em 2013 o falecido Zé Gomes (Purgatório do Heavy Metal, Folha Metálica, antigo frontman dos Wild Shadow e Ravensire). “Pintámos as paredes e os passeios das imediações do pavilhão da Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros com setas e a frase 'o festival de Heavy Metal é por aqui'".

Zé Gomes narrava a sucessão de hilariantes acontecimentos. "Na manhã do dia do espetáculo chovera bastante. Estava eu prestes a chegar ao pavilhão quando me deparei com a primeira dificuldade: a carrinha dos Xeque-mate ficara atolada na lama a 100 metros da sala. Após 15 ou 20 minutos de enorme esforço, nós e as bandas, enlameados até aos joelhos, lográmos por fim libertar o veículo", explicava.

O PA usado no evento fora alugado aos antigos elementos do Grupo de Baile, que em 1981 obtivera enorme êxito comercial e radiofónico com o single Patchouly. No entanto, chegados ao interior do pavilhão, os membros do Purgatório do Heavy Metal, da Metal Masters e das bandas enfrentaram um novo imprevisto: o sistema elétrico não aguentava a potência do PA.

"Éramos inexperientes, nunca havíamos organizado um espetáculo (…). A verificação da potência do PA e do sistema elétrico não foi acautelada", prosseguiu Zé Gomes. A organização acabou por descobrir um técnico da EDP residente na zona, a quem pagou, no seu dia de folga, para efetuar uma "puxada" a partir de um poste elétrico, fornecendo a potência necessária à realização do evento.

Na altura do soundcheck já o público se encontrava na sala. Os problemas acústicos logo se revelaram. "O espaço não era adequado para receber uma tal potência sonora", enfatizava Rudy "Sagres" (Purgatório do Heavy Metal, Folha Metálica) na mesma entrevista. Ressalve-se que entre os grupos do Norte e do Sul não houve quaisquer contrariedades referentes à partilha de equipamentos, ao contrário do que inicialmente foi divulgado.

Por outro lado, houve “problemas em controlar as entradas e saídas do pessoal durante os tempos mortos, embora não tenhamos dado 'abébias'", explicou Zé Gomes.

Os Mac Zac (futuros Tarantula) foram a primeira banda a atuar, seguindo-se os Sepulcro, Valium, STS Paranoid e Jarojupe.

Na sequência de várias queixas dos moradores motivadas, nomeadamente, pelo elevado volume sonoro, a GNR invadiu o local quando já passava da meia-noite, ameaçando confiscar o equipamento das bandas, que logo se apressaram a arrumar o seu material. A atuação dos Jarojupe não chegara nem a meio quando o festival foi dado por terminado, impedindo os Xeque-mate (que eram a banda principal), de atuar.

No final, a receita angariada revelou-se insuficiente para cobrir a maioria das despesas, mesmo não havendo lugar a pagamento de cachets.

Texto: Dico

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