Mar Assombrado - Canções do farol (2017) (Full album)
Автор: Mar Assombrado
Загружено: 2018-03-06
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01) O farol
Vem pelos ares, qual visão noturna,
o ônfalo de luz, o olho incandescente,
bailando no ar, sílfide soturna,
revelando do mar a estranha gente.
Um sol que voltou antes do Oriente
e contra a noite expõe dourada urna,
mas o fulgor dos raios tão pungentes,
ah! também revelou monstros em furnas.
E o farol, que de guia serve aos nautas,
inspira o horror que à mente sobressalta,
pesadelos marinhos e nefandos
entre as torres do mar vai desvelando.
Ao tempo que ele é guia, mestre, norte,
alvor também dos sonhos e da morte.
* *
Enquanto eu lia um conto de ar,
tecias auroras, desertos em cascatas
e entretias alísios com trenos tão suaves
que nem os ventos se lembravam.
Eram segredos nossos dias,
lanternas de cantos noturnos,
graves e estranhos.
O céu à terra não se ligava
e o vento, seu louco menino de ar,
ainda nomos não ensaiava.
Faca temperada na corrente,
divino farol, que ao mar me lançava,
amando de assassinas ondas forjar.
02) A tempestade é meu abrigo
Só a voz do vento,
de inumeráveis cornos,
abraça a ínvia borda do infinito
(jogo meu dicionário ao mar,
cinjo-me de galhos e de plantas,
flauta agreste,
coroa de feno).
Como um pássaro,
quero a vertigem do ar
e a muda conversa das estátuas
é meu espelho natural
(despersonalizada, responde com espanto
a natureza ao meu espanto).
O vento é novelo
e labirintos arma
e cantos sagrados
(Príncipe, ide, que vos sigo!
A tempestade é meu abrigo).
* *
Não descerão teus despojos ao báratro sombrio,
pois vi de perto as toupeiras escavando o monte,
e os relâmpagos, com milhões de dedos fúlgidos,
te tecerão mantos luminosos.
Meus amigos fugiram do campo,
enquanto falava com deuses muito antigos,
na fornalha dos sinos,
e vi fantásticas coisas empinadas no ar
e altas torres iluminadas.
Com suas línguas de fogo, disse-me o raio:
“Serás para mim qual oferenda
e te purificará ígneo abraço.
Serei por ti, último amigo a desatar-te
da fímbria ao último laço,
e nesta derradeira comunhão com o empíreo,
transmutar-te-ei os ombros lassos
em fogo mais sublime,
em fogo que redime,
em fogo que cria e eleva,
irmão da treva”.
E, em catecismo iluminado,
trespassou o carvalho, despertando-me
(Príncipe, ide, que vos sigo:
a tempestade é meu abrigo).
03) Mar esplêndido
Ah, mar esplêndido...
as nuvens passantes,
o grão de areia,
os passarinhos voam pelo ar,
insistem em voar...
04) Intermezzo - O farol (Pte. II)
Lançam-se os dias
como Safos nos abismos.
É bom morrer com a noite,
a noite total, que perfumará sua chaga.
Morremos noites seguidas e não só
empalados, enterrados vivos, crucificados.
Todas as tardes,
quando a corda do oceano
narra sua epopeia antiga,
e as abelhas expectoram melíferos ninhos,
esfaqueio a alma das constelações
e morro como a cítara de um dia.
* *
Não deito raízes no belo mundo e sombrio,
busco antes a lupercal seiva do espanto
e o sal das marés que agitam, escondidas,
ciclones noturnos.
Já trago em mim ventos consagrados,
loureiros que dançam com a tempestade,
vítreos cavaleiros e lanças diagonais.
Trago em mim o oculto das palavras,
que retirou figuras de um livro
e flutuou entre elas.
Sou a mão que desce do teto
e arremessa a argêntea taça gigante.
Criaturas encantadas
agora banham-se nela.
05) Adeus!
Adeus!
Meu barco segue além
destes canais estreitos
(Adeus!)
e entra no dia que reluz
milhares de efeitos...
(Adeus!)
Olho para os que ficaram,
(Adeus!)
contemplam o horizonte e se perguntam:
(Adeus...)
"Como a busca suportar?
Não sei o que procurar...
Sem conhecermos o que nos conduz,
seres de treva e de luz..."
Canções de velas e de mastros
vêm e vão além dos astros,
canhões de luz pelos lugares,
o sonho e a tepidez dos mares...
Deve a busca aumentar,
tanto tenho a procurar...
Independente do que nos conduz,
somos seres de treva e de luz.
(Vou, que sol e lua repartiram raios
para velar-me a chama)
Eis o vinho...
Ali, a bolsa...
Parto, pois de nada mais preciso.
Abençoados sejam os caminhos
que levarão a errática sombra
em torno da sombra interior.
Vou, que sol e lua repartiram raios
para velar-me a chama
e não temo leões que habitam curvas,
nem os que em mim adormecem –
eles temem, pois esperam.
Eis o vinho...
Sobre o moinho,
a rosa dos ventos eleva um canto metálico...
Levo minha carga de poeira aonde quiser.
06) Vento
Vento...
Banha o sol minha carne,
o tempo faz sua marca...
Vento...
sou um castelo de areia,
passageiro como o ar
e percorro...
a imensidão com um olhar!
Há promessas iguais no joio ocioso,
no trigo revelador,
no peso da tarde sobre os campos.
Basta saber que há algo entre as estrelas,
breve e imortal como o sussurro duma brisa,
e a noite vai se expandir noutros corpos
sugerindo a alguns a caligrafia dos sonhos...
07) Euforia
Uma canção quer ser ouvida,
alaúde, pranto ou arvoredo,
refuljo
de tudo e cada coisa
aedo.
Tenho esta mão sob a terra
e a vibração das raízes
percorre minhas veias.
Sou o salto do grilo
e o grito da árvore.
Long Live Rock!
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