Anna Magdalena Bach: Os segredos do caderno de Bach para iniciantes ao piano

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Aqui vamos falar de uma das obras mais lindas já feitas para o repertório didático do piano: o Caderno de Anna Magdalena Bach. Este é um trabalho muito íntimo, criado para o dia a dia da família Bach, mas que se tornou a porta de entrada oficial para a música de Bach para muitos pianistas.

Neste caderno há minuetos, polonesas, marchas, prelúdios e árias. Embora muitas dessas peças sejam simples, elas carregam elementos centrais do estilo de Bach: uma estrutura clara, contraponto básico, ritmo muitas vezes dançante e momentos emocionantes. Isso faz do caderno não apenas uma coleção de peças didáticas, mas uma obra-prima por si só.

Vamos começar com o Minueto em Sol Maior (BWV Anh. 114), de Christian Petzold. Este minueto ajuda o iniciante a perceber a independência das mãos e a função distinta de cada voz. Ele também introduz o ornamento do mordente, mas minha dica é tocar sem os ornamentos no início, para sentir a linha melódica pura.

Em seguida, temos o Minueto em Sol Menor (BWV Anh. 115), também de Petzold. Ele forma um par de opostos (maior e menor) com o anterior, estruturando uma forma ternária (ABA). Isso é uma excelente introdução à percepção da forma musical. Nesta peça, é ideal trabalhar a continuidade melódica e a respiração entre as frases.

O Minueto em Sol Maior (BWV Anh. 116), que segue, reforça habilidades já trabalhadas, mas introduz um novo foco: o dedilhado. Bach foi um dos pioneiros a usar os cinco dedos de forma equilibrada (incluindo o polegar sobre as teclas pretas), mostrando uma abordagem criativa da técnica.

Mais para o fim do livro, encontramos o Minueto em Ré Menor (BWV Anh. 132). Para entender essa peça, é bom visualizar as danças de salão da época (com sua elegância e gestos largos). É importante perceber a relação entre as tonalidades (a primeira parte em Ré menor termina em Fá maior e depois volta para Ré menor). Outro ponto crucial é a valorização do tempo forte (o primeiro tempo), que dá essa sensação de dança. A articulação também é chave: notas mais próximas e curtas são ligadas, enquanto as mais longas não são.

A Polonesa em Sol Menor (BWV Anh. 119) é ótima para explicar a diferença entre a polonesa barroca e a romântica. A barroca deve ter solenidade, mas também graça e leveza, o que pode ser obtido com variações de articulação. Há um debate entre a fidelidade ao som do cravo (sem muita nuance) e o uso expressivo do piano moderno. No entanto, existem práticas consolidadas: a intensidade tende a crescer à medida que as vozes são adicionadas (dinâmica em degraus, ou efeito de eco).

A Musette em Ré Maior (BWV Anh. 126) é uma dança francesa, tradicionalmente interpretada em um andamento mais rápido. Não existem registros exatos do andamento usado por Bach (o metrônomo não havia sido inventado), e os termos italianos servem mais como indicação de clima do que de velocidade precisa. Por isso, o andamento (assim como a dinâmica e a articulação) deve estar sempre subordinado ao caráter expressivo da peça.

A Polonesa em Sol Menor (BWV Anh. 125), de Carl Philipp Emanuel Bach (filho de Bach), é parte de uma sonata dele. Ao abordá-la, recomendo manter o caráter histórico polonês, o que implica em escolher uma velocidade mais calma e moderada para preservar a solenidade típica.

A Marcha em Sol Maior (BWV Anh. 124) pertence a uma tradição musical militar dos séculos XVII e XVIII, mas aqui aparece com um caráter mais leve e dançante. Mesmo assim, é importante manter o espírito de marcha, com ritmo e energia.

Finalmente, o Prelúdio em Dó Maior (BWV 846), do Cravo Bem Temperado (volume 1), aparece mais para o fim do caderno. Os prelúdios do século XVII e XVIII eram formas livres de improvisação, e Bach transformou essa sucessão de acordes quebrados em uma verdadeira tapeçaria sonora, repleta de uma polifonia oculta.

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17:29 Prelúdio n.1