LENDA DA SIRIRINGA - A MÃO PELUDA NO RIO DE AFUÁ
Автор: Paulo Ronaldo
Загружено: 2025-12-20
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LENDAS, VISAGENS E HISTÓRIAS: A SIRIRINGA - A MÃO PELUDA NO RIO DE AFUÁ.
"Eu sei que o doutor não vai acreditar num pingo do que eu vou lhe contar. Mas se o senhor quiser, eu lhe levo lá. É logo ali, doutor, no São Cosme. A gente não gasta nem quatro horas de remo. É lá que existe a siriringa.
_Só o senhor vendo, doutor: parece até coisa do Tinhoso! É como se a água daquele pedaço de rio vivesse fervendo. É borbulha que não acaba mais... Mas deixe estar que de primeiro não era assim não, doutor. Isso aconteceu não faz muito tempo.
A minha avó, que Nosso Senhor a tenha em sua santa guarda, ainda era mocinha e morava na ilharga da casa do homem que cortou a mão peluda. A tapera onde ele morava ainda está lá pra quem quiser ver e fica a uns três estirões da siriringa. Mas deixe eu lhe contar como tudo aconteceu dês do começo, tintim-por-tintim.
Uma certa noite o dito homem vinha de uma viagem, sozinho e Deus, remando em sua montaria jita. Era uma sexta-feira de lua cheia. O doutor sabe que a sexta-feira é amaldiçoada, não sabe? Pois não foi numa sexta-feira que judiaram do Nosso Senhor Jesus Cristo?
Pois então. Mas como eu ia dizendo: lá por volta de meia-noite, hora por demais temida por estas bandas, o homem vinha-que-vinha na sua canoinha. Quando passava pelo local onde hoje existe a siriringa, aconteceu a assombração: de repente, do fundo do rio, apareceu aquela mão desconforme. Mão negra. Feia. Peluda. Meio de gente, meio sei-lá-do-que. Parece até – que Deus me perdoe pelas horas que são – a mão do Capiroto.
Foi aparecendo e agarrando na beira da canoa querendo-porque-querendo levá-la com tudo pro perau. O senhor já pensou, doutor, na situação do pobre caboclo diante de tamanha arrumação? Pois mais do que depressa ele danou-se a bater na mão tinhosa com o remo de pracuuba. E o senhor pensa que a peste da mão peluda largou a montaria? Largou nada, doutor.
Quanto mais ele batia, mais ela o puxava pro fundo do rio. No meio desse furdunço parece que o mundo parou em volta dos dois: parou o rio, parou o vento, parou o tempo. Somente a lua a pino alumiava o desespero do homem. O silêncio era tanto que só se escutava o baque do remo contra a mão e as batidas do coração do caboclo em tempo de sair pela boca. E ele ali, doutor, sozinho e Deus, a lutar com aquela mão saída – credo em cruz três vezes! – do fundo do inferno.
E bateu até o remo virar fanico. A montaria já estava com água pela metade, afunda - não - afunda. Mas quando tudo parecia perdido, avistou, pelo rabo do olho, a lua refletida na lâmina do terçado preso na proa da embarcação. Foi um pulo só, doutor! O caboclo agarrou-se ao cabo do terçado como se fosse o cabo da salvação, o cabo da própria vida!
E foi tamanho o desespero do homem, doutor, que o terçado desceu com o peso de um raio, certeiro, violento, decepando de um só golpe a mão atentada que afundou siriringando, para sempre, nas águas barrentas do São Cosme.
Mas deixe estar que a história não acaba aí, doutor: o homem chegou em casa ardendo em febre e com uma terrível dor de cabeça. Que dor de cabeça foi essa, doutor, que o pobre acabou enlouquecendo e morrendo à míngua, sete dias depois. E desde esse tempo, nunca mais parou de siriringar no lugar onde afundou a mão peluda.
Eu sei que o doutor não acreditou num pingo do que eu lhe contei. Mas se o senhor quiser, eu lhe levo até lá. É logo ali, doutor, no São Cosme.
Causo baseado num fenômeno natural popularmente chamado de "a siriringa" (Bolhas de ar que afloram nas águas) que ocorre, o tempo todo, num trecho do São Cosme, furo de ligação entre os rios Aningal e Piraiauara, no município do Afuá, tantas vezes presenciado por mim quando, em menino, por lá passava. Apesar de ser um fenômeno natural, o povo explica sua existência por via sobrenatural, atribuindo ao corte da "mão peluda" por um certo morador do local.
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