O sistema não quer pessoas de bem com a vida! |

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Fiilosofando / 156

O sistema não quer pessoas de bem com a vida

Desde a Antiguidade, filósofos como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio refletiam sobre a vida boa — uma existência pautada não pelo acúmulo de bens, mas pela conquista da serenidade interior. O ideal estoico, por exemplo, propõe que a verdadeira riqueza não se mede pelo que se possui, mas pela capacidade de viver em conformidade com a razão e em paz consigo mesmo.

Essa visão contrasta com a lógica dominante do capitalismo moderno, que alimenta desejos artificiais para manter o consumo em movimento. O sistema precisa de indivíduos inquietos, que se sintam permanentemente insuficientes. Daí a profusão de más notícias na televisão, a narrativa de heróis onipotentes no cinema — que reforçam nossa pequenez diante do mundo — e a exibição de vidas “perfeitas” nas redes sociais, que incitam inveja e comparação. Ansiedade, angústia e desejo se tornam mercadorias invisíveis, tão valiosas para o sistema quanto qualquer produto físico.

Quem mergulha na filosofia clássica percebe esse mecanismo com maior clareza. Aprende que não é necessário comprar constantemente para ser feliz, pois a felicidade repousa mais na disciplina da mente do que na posse de objetos. O desapego ao supérfluo abre espaço para uma nova relação com o dinheiro. Em vez de servir apenas ao consumo imediato, os recursos podem ser destinados a investimentos que gerem renda passiva, aproximando o indivíduo da liberdade financeira.

Curiosamente, o capitalismo não impede essa estratégia — ao contrário, oferece instrumentos para que ela aconteça. O que o sistema não deseja é que muitos percebam isso. Pois, à medida que mais pessoas se tornam financeiramente livres, a dependência do consumo se enfraquece. É por isso que se fala pouco em filosofia e muito em consumo; pouco em serenidade e muito em urgência.

Estudar os clássicos, portanto, é mais do que um exercício intelectual. É um ato de resistência cultural e de emancipação pessoal. Ao aplicar os princípios filosóficos ao cotidiano financeiro, descobrimos que é possível usar o próprio capitalismo como defesa contra suas armadilhas. A liberdade que os estoicos pregavam — a de não ser escravo das paixões — encontra eco na liberdade de quem não é escravo das dívidas, das propagandas e da ostentação.

No fim das contas, filosofia e educação financeira se unem em um mesmo propósito: libertar o ser humano. Uma, mostrando que a vida boa depende de virtude e equilíbrio; a outra, garantindo meios materiais para sustentar essa vida sem submissão às pressões externas. Juntas, oferecem a possibilidade de caminhar com mais autonomia em meio a um sistema que prefere nos ver ansiosos, endividados e inseguros.

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Jean Tosetto é arquiteto e urbanista pela FAU PUC de Campinas, com experiência em projetos residenciais, comerciais e institucionais desde 1999. Ao longo de sua trajetória, aliou seu olhar técnico da arquitetura à habilidade de escrever, tornando-se também autor e editor de conteúdos sobre investimentos — com destaque para o mercado de fundos imobiliários.

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