A VOZ QUE PEDIU AJUDA DENTRO DA MÁQUINA DE LAVAR

Ana mora sozinha em um apartamento pequeno e tem uma máquina de lavar usada que vira parte da rotina dela.
Certa noite, a máquina liga sozinha de madrugada, presa no enxágue, cheia de água escura, mesmo desligada da tomada.
Com o tempo, Ana começa a ouvir, misturado ao barulho do tambor, um murmúrio que parece uma voz pedindo ajuda, como alguém falando debaixo d’água.
A água dentro da máquina passa a ficar cada vez mais estranha: escura, com cheiro de rio sujo e profundidade impossível para um tambor doméstico.
Em uma tempestade, a área de serviço alaga, a máquina “acorda” sozinha e várias vozes pedem socorro de dentro, como vítimas de enchentes presas naquele fluxo.
Quando ela abre parcialmente a porta, uma mão encharcada, gelada e enrugada agarra seu pulso e tenta puxá-la para dentro daquela água sem fundo.
Ana consegue fechar a porta à força, as vozes somem e a máquina queima de vez; o técnico encontra uma lama escura com lixo e fios de cabelo dentro dela, igual à de bueiro de enchente.
Depois, usando lavanderia e outra máquina nova, Ana ainda ouve, às vezes, sussurros vindos de tambores e canos, e passa a acreditar que vozes de pessoas levadas por enchentes seguem vagando pela água da cidade, tentando ser ouvidas através de qualquer máquina de lavar.