André van Drunen - Fotografando (Clipe Oficial)

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Já tinha enrolado um ano mais que inteiro então era hora de pegar o metrô pra loja do centro revelar as fotos do verão passado. Era de uma câmera analógica amarela à prova d’água, devia ser dos anos 90, que se quebrou no mar em uma viagem e parou de funcionar. Viveu bem até o fim: foi à prova d’água até morrer afogada. Os negativos acumulavam poeira dentro dela ao ponto do que saísse seria surpresa porque realmente eu já não lembrava mais de muito dali.

Até que chegou o e-mail com as fotos. Hoje em dia, crianças, vocês não voltam mais da loja de revelação com um álbum de fotos fresquinhas pra folhear e encontrar as menos borradas. Eles te enviam um e-mail com o arquivo das fotos, no meu caso em até 7 dias úteis depois, o que adiciona uma analogia temporal a mais na analogicidade de todo esse processo que por um triz não morreu nos anos 90.

Eu vi e então lembrei. A praia, as festas, Portugal (saudade!), a época de Londres, embaixo d’água num mar surreal nas ilhas Baleares, dá pra ver até a picada da vespa maldita que dias antes surgiu para mim apenas como uma dor fina em plena fila da segurança do aeroporto indo viajar de férias. Boas férias (realmente foram apesar do incidente vespertino).

Tinha também as preto e branco. Icônicas, nostálgicas. Film noir, no mar.

Todos momentos legais que amei reviver através de um processo químico de impressão de cenas em filme que vira arquivos binários lidos por programas visualizadores que exibem o arquivo em forma de imagem que é vista pelo nosso cérebro, que lembra. E agora eu tenho algo, a sementinha, o tema de criação.

Complexionei meus projetos: virou um poema e tentei a sorte de combinar nuns acordes de guitarra que fiz meio sem saber nos primeiros meses das classes pra aprender a tocar. Coloquei um reverb enorme, uns dropouts no áudio (tipo falhando) e virou uma demo chamada melhor v2.mp3. Por muito tempo me apeguei a essa versão ainda tão recém-nascida, não queria perder a essência mas ao mesmo tempo sabia que ela precisava crescer. Acabou que houve um processo de meiose. Uma parte do DNA ficou pra Pêndulo, que vou lançar ano que vem e tem um projeto ainda mais complexo que envolveu a moldagem e pintura de dezenas de azulejos de cerâmica. A outra parte do DNA ficou para Fotografando, que foi mais pra um violão brasilidades.

Esta é Fotografando.

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