Achei Um Diário Antigo No Sótão — O Segredo Dentro Mudou Minha Vida

O cheiro de mofo e poeira, um perfume denso e antigo, pairava no ar do sótão como um véu sobre o tempo. Cada passo sobre as tábuas rangentes era um sussurro de histórias esquecidas, um convite para desenterrar o que o esquecimento tentou sepultar. A luz fraca que se esgueirava pelas frestas das telhas desenhava formas fantasmagóricas nos cantos escuros, onde móveis cobertos por lençóis brancos pareciam espectros adormecidos. Foi ali, em meio a caixas abarrotadas de memórias alheias, que meus dedos encontraram a lombada gasta de um caderno. Era um diário, de capa escura e sem título, com as páginas amareladas pelo tempo e marcadas por uma caligrafia elegante, porém trêmula.

Eu não buscava nada em particular, apenas o refúgio que a desordem do passado oferecia à minha própria inquietude. Morava em Salvador, uma cidade que pulsa com a força de mil batidas de atabaque e a melancolia de um mar que tudo vê e tudo esconde. Minha vida, até aquele momento, era um ciclo de dias previsíveis, pontuado pela rotina de meu trabalho como historiador em um pequeno museu do Pelourinho. Aos trinta e poucos anos, sentia que a poeira do sótão começava a se depositar sobre minha própria existência, obscurecendo os contornos de um futuro que parecia cada vez mais cinzento. A cidade, tão vibrante e cheia de vida, por vezes me parecia um palco onde eu apenas assistia, sem nunca ter um papel de destaque. A herança cultural que eu ajudava a preservar parecia mais viva do que eu próprio.


Seja membro deste canal e ganhe benefícios:
   / @guerreirodoaxé  

Conheça os livros do nosso patrocinador: https://amzn.to/3DmU1BE