Tudo é campo, tudo é bola!

No início do século XX, São Paulo vivia um fervoroso entusiasmo com a chegada do futebol, que prometia democratizar a sociedade e trazer modernidade. A paixão pelo esporte rapidamente uniu diversos grupos da cidade – brasileiros e imigrantes, ricos e pobres, negros e brancos – em associações esportivas. Contudo, essa promessa de igualdade encontrou resistência na elite cafeeira, que se apropriou dos esportes para reafirmar sua "distinção social". À medida que o futebol se popularizou entre os mais pobres, a aristocracia começou a promover campanhas para desacreditar o futebol praticado pelas classes baixas, muitas vezes ridicularizando as equipes populares como brutas e desrespeitosas das regras do jogo.

Com o objetivo de se distanciar dos menos favorecidos, a elite criou uma separação espacial no futebol. Em 1901, o Clube Atlético Paulistano, em parceria com a prefeitura, transformou um velódromo em campo exclusivo, marcando o início da segregação entre o futebol "privatizado" dos estádios e o "futebol de várzea", praticado em terrenos públicos. Esse fenômeno deu origem ao conceito de "futebol de várzea", que, inicialmente associado às margens do Rio Tietê, evoluiu para um símbolo da resistência da periferia paulistana contra a especulação imobiliária e a elitização do esporte. Hoje, o futebol de várzea representa a luta pela inclusão, pelo acesso à cidade e pelo direito ao lazer e à dignidade.

Equipe
Roteiro: Estefani Maciel e Bruno Kristoffer
Documentação: Matheus Leitão
Imagem, fotografia e edição: Bruno Kristoffer
Direção: Estefani Maciel
Supervisão da equipe: Ana Luisa Gomes, Luana Copini, Colibri Vitta ou Sergio Gomes.

Este material é resultado do curso CINEMA E JORNALISMO: LUZES SOBRE SÃO PAULO - 4ª EDIÇÃO promovido pelo Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD), em parceria com a OBORÉ, no âmbito do Projeto Repórter do Futuro. Contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura por meio de emenda parlamentar. São Paulo, 2024.