Por que o capitalismo universaliza a desigualdade? | Maria da Conceição Tavares (Aula 02)

Data: 18 de Março de 1992

Esta segunda aula do curso de Economia Política aprofunda a análise da Revolução Industrial, focando na complexa relação entre as formas de produção. A Professora Maria da Conceição Tavares argumenta contra a visão linear de que a grande indústria (forma dominante) simplesmente extingue as formas anteriores, como a manufatura ou o "putting-out system".

A tese central é que o capitalismo opera através de um movimento duplo de concentração e dispersão. Em vez de desaparecer, a pequena produção (o "craft") é rearticulada e subordinada pela grande indústria. A professora usa exemplos que vão do sistema japonês de fornecedores à Benetton, demonstrando como a produção em pequenos lotes é coordenada em escala global pela grande empresa, que retém o controle do design, da logística e da marca.

Na segunda metade da aula, a análise move-se para o plano internacional. Tavares sustenta que o capitalismo, embora universalize a mercadoria e o dinheiro, não é homogeneizante. Pelo contrário, ele opera e se expande através da desigualdade estrutural.

Este "desenvolvimento desigual" é mantido por mecanismos centrais:

A Troca Desigual: A transferência de valor da periferia para o centro, que se acentua em crises.

O Endividamento Periódico: As crises de dívida externa como mecanismo de submissão e transferência patrimonial.

O Estado Patrimonial: A sobrevivência, na periferia, de um Estado defensivo, focado em "salvar a riqueza das elites oligárquicas" e não emular o modelo liberal.

A professora conclui que o verdadeiro motor da "destruição criadora" (no sentido schumpeteriano) é o progresso técnico industrial, e não as forças abstratas do mercado, do dinheiro ou do patrimônio, que ela classifica como puramente destrutivas.

00:00:16 - A Evolução dos Sistemas de Máquinas (1ª, 2ª, 3ª Rev. Industrial)
00:02:29 - Crítica à "Terceirização": A Manufatura (Putting-Out) Reaparece
00:06:01 - O Capital Concentra e Dispersa: Crítica à ideia de fim da pequena burguesia
00:09:30 - A Articulação Dominante: A Grande Indústria e o Mercado de Massas
00:13:14 - A Base Técnica: Mecanização, Desqualificação do Trabalho e o "Catch-up" Periférico
00:17:40 - A Sobrevivência do Esquema Colonial: Troca Desigual e Endividamento Periódico
00:20:10 - A Sobrevivência do Estado Patrimonial e Defensivo na Periferia
00:22:30 - O Capitalismo Universaliza a Mercadoria, mas NÃO Homogeneíza as Condições
00:31:35 - Crítica à "Patologia" Americana e o Papel do Estado-Nação
00:36:10 - Conclusão: O Progresso Técnico como Verdadeira "Destruição Criadora"

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