Miradouro suspenso do Zebro, um projeto com assinatura do arquiteto Álvaro Siza Vieira - Portugal

Com uma vista sobre o extenso vale, o Miradouro do Zebro, localizado na serra do Muradal, na freguesia Vilar Barroco, concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco, tem vindo a encantar quem o visita com uma vista deslumbrante. Mais do que uma simples obra arquitetónica, com a assinatura de Álvaro Siza Vieira, esta infraestrutura deixa-nos completamente extasiados com sua beleza natural, aliada à engenhosidade humana. Daqui, observa-se a complexidade da crista da serra do Muradal em três alinhamentos quartzíticos.
O local tem vindo a receber imensos visitantes, para admirar esta estrutura assim como a paisagem envolvente, paisagem essa que agora nesta época da primavera ainda torna este imenso vale mais encantador. Eu de facto, tive bastante dificuldade para conseguir gravar o local, livre para não captar pessoas.
A 837 metros de altitude, o Miradouro do Zebro não só proporciona uma vista panorâmica deslumbrante sobre a Serra do Muradal, como conta parte da história da região e da Terra. O nome que designa o local "Zebro" nada mais era do que uma espécie de cavalo selvagem que viveu na Península Ibérica até ao século XVI. Consta que seria da linhagem do cavalo Sorraia. Teria parecenças com o burro, mas de dorso branco e riscas cinzentas, e mais alto, forte e veloz que o asno doméstico. Nos locais onde foi abundante, conservam-se vários topónimos relacionados com esta espécie de zebra que outrora deambulava pela região. Zebreira, Casas de Zebreira e Zebro, no concelho de Oleiros, são alguns exemplos.

Mas, o Miradouro do Zebro e a região que o circunda é sobretudo um marco de elevada importância geológica, fator fundamental para que a Serra do Muradal fosse integrada no Geopark Naturtejo. esta região de cristas rochosas deixa a descoberto um passado e um presente, de uma paisagem que começou a ser esculpida há mais de 400 milhões de anos. Na Era Paleozoica, há cerca de 600 a 400 milhões de anos, este território era o fundo de um oceano, onde se depositaram sedimentos que foram enrugados e elevados por forças compressivas originadas pela colisão dos continentes que formaram o supercontinente Pangeia. Este evento geológico deu origem a grandes cordilheiras montanhosas. Uma delas é a cordilheira dos Apalaches que foi rasgada pelo Oceano Atlântico há cerca de 200 milhões de anos, e a Serra do Muradal faz parte dela. As cristas e fragas de rocha quartzítica visíveis do Miradouro do Zebro são nada mais do que falhas geológicas, cicatrizes da história da Terra. São elas, a Falha de Vilar Barroco, Fajão, a Falha de Taliscas, a Falha de Cascalho e a Falha de Pé da Serra de Cartamil.
O miradouro, que demorou quase um ano a ser construído, constituí uma plataforma de planta circular de 15 metros de diâmetro, fixada e suspenso na rocha, instalada a 30 metros do solo e a 200 metros desde o fundo do vale. O projeto como já foi sublinhado, tem a assinatura do arquiteto Álvaro Siza Vieira, sendo desta forma, o único miradouro com a sua assinatura em Portugal.
O miradouro com formato ondulado sobre uma placa circular construída em cimento armado, resguarda o abismo por largos centímetros, mas impedindo que se aviste o fundo do vale, visto apenas através de dois grandes óculos de vidro reforçado no chão, que permitem espreitar o abismo escarpado até ao fundo, que continuam até ao sopé por baixo dos nossos pés a cerca de 200 metros até ao ponto mais baixo. Já os painéis interpretativos permitem identificar os sistemas montanhosos à nossa volta, ou ficar a conhecer a origem do nome. A estrutura oferece alguma segurança, contudo nunca é demais sublinhar a aproximação demasiado dos penhascos, para evitar alguma queda fatal, e a nunca demais, atenção ás crianças, que devem estar sempre debaixo de olho dos adultos.