Quanto mais se conhece a graça, mais se obedece a lei - Ki Tetsê Marcelo M. Guimãres

Esta parashá de apenas quatro capítulos contém o maior número de leis (estatutos), por quê?
Por que a Igreja cristã há mais de 1900 anos tem ignorado essas importantes leis? Como entendê-las em sintonia com o Novo Testamento? Como aplicá-las nos dias de hoje? Portanto, convido você a desvendar o segredo das leis desta porção.
A Parashá dessa semana é chamada “Ki Tetsê” (quanto saíres), e corresponde ao texto de Deuteronômio capítulos 21:10 a 25:19. Moisés recapitula e explica minuciosamente os mandamentos da Torá para que Israel pudesse viver na justiça do Eterno. Veremos mandamentos sobre casamentos e divórcio, direito dos primogênitos, filhos rebeldes, relações sexuais ilícitas, leis sanitárias, levirato e outras instruções.
Sempre é importante entender que os mandamentos da Torá possuem um “klipá” (uma casca, ou aspecto externo) e um princípio intrínseco à lei, um núcleo moral que representa a essência do mandamento. Assim, o aspecto externo de um mandamento pode variar com o passar do tempo. Leis são adaptadas a todo momento pelos rabinos (e até mesmo pelos apóstolos no 1º século) para poderem ter sua essência aplicada a contextos e situações diferentes da época de Moisés. Assim, o núcleo moral do mandamento, sua essência e princípio, representa algo imutável e eterno. Ou seja, o princípio do mandamento é mais importante do que sua externalidade ou aspecto temporal. Podemos também dizer que o objetivo do mandamento é mais importante do que seu aspecto literal. Mas qual seria este objetivo universal da Torá?
O Apóstolo Paulo declara em Rm 7:14 que a “Torá é espiritual”, e seu principal objetivo é fazer com que “não andemos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). Porém, quando vivemos uma vida em desobediência a D-us, sendo escravos das paixões da carne, a Torá do Eterno não gera vida nem consegue fazer com que vivamos segundo o Espírito. Podemos até estudar a Torá e conhecer o que agrada e o que não agrada a D-us, mas o pecado em nós contamina esta Torá do conhecimento e faz com que ela não tenha eficácia alguma. Pelo contrário! Para o indivíduo em pecado, esta Torá servirá de acusação e condenação, pois apontará o pecado e as consequências de uma vida fora dos padrões de D-us. A mesma Torá que é deleite e prazer para o justo, é condenação e peso para o pecador. A pessoa simplesmente não consegue obedecer a D-us.
Mas através do sacrifício de Yeshua, a Torá do Eterno é escrita em nossa mente e em nosso coração, ou seja, nossa consciência é moldada sobrenaturalmente com os princípios e valores do Reino. Agora, a Lei se torna espiritual e verdadeiramente gerará vida, pois teremos condições de cumpri-la da forma correta, aplicando seu princípio (núcleo moral) em todos os aspectos de nossas vidas. Quando Yeshua nos dá o Espírito do Eterno como penhor da sua promessa (Ef 1:14), temos o poder de dominar a nossa carne e não mais nos inclinamos à ela (ietzer há rá), dedicando-nos agora às coisas provenientes do Espírito (ietzer há tôv). Agindo dessa forma, não andaremos segundo a carne, mas nas boas obras da Torá espiritual, tendo vida e santidade e refletindo o caráter de Yeshua.
Rabino Marcelo Guimarães


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