A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS (JÚLIO VERNE) - AUDIOBOOK

Publicado em 1873, A Volta ao Mundo em 80 Dias é um dos romances mais célebres de Júlio Verne, e talvez o mais emblemático de seu espírito aventureiro e científico. A obra combina o fascínio pelas inovações tecnológicas do século XIX com uma narrativa de ritmo acelerado e personagens inesquecíveis. Mais do que uma simples viagem geográfica, o livro é uma celebração do engenho humano, da determinação e da capacidade de sonhar — temas centrais na literatura verniana.

A história começa na vibrante Londres vitoriana de 1872, centro do império britânico e símbolo de uma era dominada pela razão, pela expansão colonial e pelo avanço técnico. Nesse cenário surge Phileas Fogg, um misterioso cavalheiro inglês de hábitos meticulosos, que leva uma vida rigidamente regrada e previsível. Fogg é membro do Reform Club, um círculo de aristocratas e intelectuais que discutem política, ciência e progresso. Certo dia, durante uma conversa sobre as recentes conquistas da modernidade — como a ferrovia transcontinental na Índia e a abertura do Canal de Suez —, ele afirma ser possível dar a volta completa ao mundo em apenas oitenta dias.

Os outros membros do clube o ridicularizam, considerando a façanha impossível. No entanto, movido por sua confiança na precisão e na lógica, Fogg faz uma aposta audaciosa: arrisca vinte mil libras esterlinas — metade de sua fortuna — de que conseguirá realizar tal feito. Em poucas horas, ele parte de Londres acompanhado de seu recém-contratado criado francês, Jean Passepartout, um homem leal, espirituoso e propenso a confusões cômicas. Assim começa uma das mais famosas jornadas da literatura.

A dupla segue um itinerário cuidadosamente calculado: da Inglaterra à França, depois ao Egito, à Índia, a Hong Kong, ao Japão, aos Estados Unidos e de volta à Europa. No caminho, enfrentam todo tipo de contratempo: tempestades, atrasos em trens e navios, revoltas, ataques de indígenas, e até a perseguição de inspetor Fix, um policial britânico que acredita que Fogg seja o ladrão responsável por um grande roubo ao Banco da Inglaterra. Fix segue os viajantes pelo globo, determinado a prendê-lo — um mal-entendido que gera momentos de humor e tensão ao longo da narrativa.

Durante a passagem pela Índia, Fogg e Passepartout protagonizam um dos episódios mais memoráveis do livro: o resgate de Aouda, uma jovem viúva hindu condenada a morrer em uma cerimônia sati. O gesto heroico, que põe em risco a jornada e a fortuna de Fogg, revela a profundidade de sua humanidade e contrasta com sua aparente frieza mecânica. Aouda, grata e encantada, passa a acompanhá-los, e sua presença trará uma inesperada transformação emocional ao impassível cavalheiro inglês.

A viagem continua com ritmo crescente, alternando aventura, humor e reflexão. Fogg, sempre calmo e metódico, enfrenta com racionalidade cada obstáculo, enquanto Passepartout reage com emoção, improviso e coragem. Essa dupla representa dois polos da natureza humana: o cálculo e o instinto, a razão e o coração. Júlio Verne explora essa oposição de forma magistral, mostrando que o verdadeiro equilíbrio está na união de ambos.

Quando o grupo finalmente chega a Londres, após uma sucessão de percalços e milagres logísticos, acreditam ter falhado — Fogg pensa ter perdido a aposta por apenas algumas horas. Contudo, um detalhe crucial muda tudo: ao dar a volta ao mundo no sentido leste, ele ganhou um dia no calendário. Descobrindo o erro a tempo, Fogg corre ao Reform Club e chega exatamente no minuto final, vencendo a aposta e provando que o impossível pode ser alcançado pela razão e pela perseverança.

Mas o verdadeiro triunfo não é financeiro. Durante a viagem, Fogg — o homem que vivia como um relógio — descobre algo que a precisão e o controle jamais poderiam lhe dar: o amor. Ele se casa com Aouda e percebe que a verdadeira aventura não está nas distâncias percorridas, mas nas transformações internas. Assim, Verne encerra o romance com uma mensagem profunda e atemporal: “O que Fogg ganhou em sua viagem? — Uma mulher encantadora, e isso vale mais do que todas as libras do mundo.”

A Volta ao Mundo em 80 Dias é, portanto, uma celebração do espírito humano em sua forma mais pura: curiosa, ousada e apaixonada pela descoberta. É um retrato do otimismo tecnológico do século XIX, mas também uma reflexão sobre o tempo, o amor e o propósito. Com seu estilo claro, repleto de detalhes científicos e um senso de humor elegante, Júlio Verne cria uma narrativa que permanece viva e encantadora mais de um século após sua publicação — um lembrete de que, enquanto houver vontade de explorar e aprender, sempre haverá novos mundos a serem conquistados.