O BAIRRO PROIBIDO DE BUSAN | Zona vermelha, russos e a Coreia que ninguém mostra

Neste vídeo, eu troco a Busan das praias e cafés instagramáveis por outra Busan, a que começa literalmente na porta da estação. Numa noite de outono, com vento cortando vindo do porto, saio da Estação de Busan e atravesso a praça até entrar na Chinatown e, alguns quarteirões depois, na Texas Street, uma zona vermelha portuária onde neons quebrados dividem espaço com placas em hangul, russo e chinês.

Em vez de Haeundae, Gamcheon ou templos pendurados na montanha, o cenário aqui são motéis baratos, casas de câmbio, bares para marinheiros e ruas onde quase ninguém quer apontar a câmera. Falo sobre preconceit0, imigração e prostituiçã0, mas não como turismo de miséria, o foco é entender como esse pedaço de cidade virou um enclave “multicultural” onde se cruzam o sonho coreano, o sonho russo, o sonho chinês, e o cansaço de todos eles.

Guiado por reflexões de Byung-Chul Han e Walter Benjamin, caminho por esse submundo eurasiano tentando entender o que a Coreia faz com os seus próprios limites, zonas que a lei diz que não deveriam existir, mas que o mercado mantém vivas; ruas onde o Estado finge não ver, enquanto lucra com a imagem de um país perfeito de K-pop e K-drama. Entre casas noturnas, histórias de migração e silêncio institucional, Busan aparece não como cenário de filme, mas como porto real, cheio de atrito, contradição e gente tentando sobreviver.

Tópicos principais do vídeo:
• Chinatown e Texas Street: a fronteira estranha entre Coreia, Rússia e China em Busan;
• Como uma área de concessão chinesa virou zona de soldados americanos e, depois, enclave russo;
• A lei contra o comércio sexual e a hipocrisia da “revitalização” urbana;
• Imigração, trabalho precário e o “sonho coreano” visto do porto;
• Preconceito, moralidade seletiva e a pergunta: quem o Estado tenta proteger ao apagar a zona vermelha?;
• Byung-Chul Han e a “sociedade da transparência” versus a cidade real, cheia de fissuras e opacidade;
• Benjamin, espaços de exceção e esses lugares que todo mundo conhece, mas finge não ver;
• A Coreia que não aparece nos cartões-postais: entre neons cansados, corpos à venda e vidas em trânsito.

📍 Gravação feita nos arredores da Estação de Busan, Chinatown e Texas Street, Busan, outono de 2025.

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00:00 - Abertura: noite de outono em Busan, vento do porto e o cheiro de transição
01:02 - A Busan oficial vs a Busan que a cidade prefere esconder
02:44 - Aviso: este vídeo não é "turistão da zona vermelha"
04:29 - A fronteira estranha entre Coreia, Rússia, China e Estados Unidos
07:03 - Contexto histórico: porta de entrada de chineses, americanos e russos
07:43 - Entrando na Chinatown: lanternas, murais e o charme de parque temático
08:10 - Old Boy foi gravado aqui: o mandu e o restaurante do filme
09:57 - Século XIX: a concessão chinesa e os primeiros estrangeiros em Busan
11:26 - A Chinatown que é na verdade uma semi-russiatown eurasiana
12:21 - A globalização de baixo pra cima: gente comum cruzando fronteiras
13:32 - Bem-vindos à Texas Street: de praia cênica a faroeste urbano
14:06 - 1945: soldados americanos, prostituição e moralidade suspensa
16:54 - Byung-Chul Han e a sociedade da transparência
19:45 - A parte mais delicada do vídeo: zona vermelha hoje
21:25 - Revitalização e turistificação: a polêmica das esculturas
22:23 - Paralelos com o Brasil: Santos, Recife, Rio — o porto como cicatriz urbana
23:45 - Quando o Estado apaga a zona vermelha: protegendo quem?
24:01 - O "sonho coreano": 2.8 milhões de estrangeiros e a realidade da imigração
30:00 - Memória pessoal: pandemia em Seul, solidão e a beleza simples da vida
31:40 - Encerramento: o néon cansado, os imigrantes, a realidade mais complicada

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📚 LIVROS MENCIONADOS NO VÍDEO

• Byung-Chul Han – A Sociedade da Transparência
Reflexão sobre a obsessão contemporânea por exposição total, superfícies “limpas” e vidas sem sombra, base pra pensar por que lugares como a Texas Street incomodam tanto.

• Walter Benjamin – Passagens (também publicado como O Livro das Passagens)
Estudo sobre as passagens de Paris como espaços híbridos da modernidade, onde mercadoria, cidade e desejo se misturam, inspiração pra pensar Texas Street como “passagem moral” da cidade.

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